Ouvir é provavelmente a mais subestimada habilidade da liderança. A forma como você ouve pode mudar a sua vida; além dos negócios e da indústria.
No coração da maioria dos exemplos colossais de fracassos de liderança – que não são escassos – os líderes muitas vezes não conseguem se conectar e entender o mundo “VUCA” ao seu redor; isto é, um mundo definido pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade.
Ouvir é importante para nós como indivíduos, não apenas para os líderes. Se você não é um bom ouvinte, não há como desenvolver domínio real em qualquer disciplina.
No meu trabalho o feedback mais consistente que recebemos das centenas de workshops, programas e jornadas de inovação que facilitamos é o seguinte: mudar seu modo de ouvir é uma mudança de vida. Mudar como você ouve, a maneira como você presta atenção, parece uma mudança muito pequena. Mas aqui está a coisa: mudar como você ouve significa que você muda como você experimenta relacionamentos e o mundo. E se você mudar isso, você muda, pode se assim dizer, tudo.
É realmente impressionante a rapidez com que as pessoas podem mudar sua maneira de ouvir e participar. O que quero dizer com “participar” é isto: onde quer que você coloque sua atenção como líder, como inovador, como criador de mudanças, ou como pai, é aí que a energia do sistema ao seu redor irá (incluindo sua própria energia).
Mas ser um líder que ouve demanda esforço: prática, revisão, feedback dos colegas e mais prática. Para se tornar um melhor ouvinte você precisa entender os quatro arquétipos da escuta.
Os quatro tipos de escuta refletem os princípios subjacentes da abertura da mente, coração e vontade são eles:
- Downloading: Esse tipo de escuta limita-se a reconfirmar o que já sabemos. Nada de novo penetra na nossa bolha.
- Escuta real: Deixamos os dados falarem com a gente e notamos informações disconformes. Fazer isso requer abrir a mente – isto é, a capacidade de suspender nossos hábitos de julgamento.
- Escuta empática: Vemos a situação através dos olhos de outra pessoa. Fazer isso requer abrir o coração: usar nossos sentimentos e nosso coração como um órgão de sintonia com a visão de outra pessoa.
- Audição generativa: Nós ouvimos a possibilidade futura mais alta de aparecer, mantendo um espaço para algo novo nascer.
Quando você ouve no Nível 1, downloading, sua atenção não está focada no que a outra pessoa diz, mas em seus próprios comentários internos. Por exemplo, você pode estar planejando o que vai dizer em seguida.
À medida que você passa da fronteira entre download e a escuta real (Nível 1 a 2), sua atenção se move de ouvir sua voz interior para realmente ouvir a pessoa à sua frente. Você se abre para o que está sendo dito.
Quando você começa a cruzar a fronteira entre a escuta real e a escuta empática (Nível 2 a 3), o seu lugar de escuta muda de você para a outra pessoa. Isto é, do seu pequeno veículo (a inteligência da sua cabeça) para o seu veículo maior (a inteligência do seu coração). Você entra na perspectiva da outra pessoa. Por exemplo, você pode pensar: “Bem, posso não concordar, mas consigo entender como ela vê essa situação”.
Finalmente, quando você cruza a fonteira da escuta empática para a generativa (Nível 3 a 4), a sua escuta torna-se um espaço de retenção para trazer algo novo para a realidade que quer nascer. Você ouve com abertura o que é desconhecido e emergente.
O que aprendi em meu trabalho é que o sucesso da liderança e do trabalho de mudança (seja mudança organizacional, mudança de indústria ou trabalho de mudança de vida) depende da capacidade de você, líder, observar sua qualidade de escuta e ajustar qualidade de ouvir o que é necessário em cada situação.
Escrito por Otto Sharmer
Scharmer é autor do método de gerenciamento de mudanças e livro Teoria U, e ele é co-autor do livro Liderando o futuro emergente, em que descreve “oito pontos de acupuntura para transformar o capitalismo”. Em 2015, co-fundou o MITx u.lab, um curso aberto massivo e online (MOOC) para “liderar mudanças profundas” no qual mais de 45.000 usuários de 185 países participaram. Com seus colegas, ele ministrou programas de desenvolvimento de liderança para clientes corporativos e co-facilitou laboratórios de inovação na reinvenção da educação, saúde, negócios, governo e bem-estar.