Patriarcado e organizações: experiências trazem insights para a regeneração

May 16th, 2019 Posted by Casos, Encontros, Metodologias, Organizações, Regenera 0 thoughts on “Patriarcado e organizações: experiências trazem insights para a regeneração”

“Não estamos nem engatinhando. Esta questão ainda é um recém-nascido nas organizações.” Foi assim que a convidada Rita Monte apresentou sua visão sobre a relação entre patriarcado e regeneração na sexta edição do evento “Reinventando as Organizações – Insights para a Jornada”, realizado pela comunidade Regenera na Unibes Cultural no último dia 10 de maio.

O evento partiu da pergunta: “É possível promover regeneração em uma sociedade patriarcal?” e trouxe cinco diferentes experiências para inspirar a discussão. Rita abriu o painel contando um pouco de sua trajetória até se tornar coaching para mães. Seu trabalho em organizações hoje inclui oficinas em que promove rodas de conversa para processos de escuta entre mulheres e homens. “A regeneração começa a acontecer quando cada um se conecta com a sua própria história. Começo as oficinas contando sobre a minha história e me vulnerabilizando. E quando as pessoas enxergam a minha fragilidade, abrem espaço para se conectar com a delas”.

“Me perguntam se sou feminista. Não estou nem perto disso. Sou um machista em regeneração”, disse Sergio Barbosa, que atua com condenados pela Lei Maria da Penha, entre outros projetos de ressignificação da masculinidade tóxica. Seu trabalho, também em rodas de conversa, inclui despertar os homens para comportamentos cotidianos que podem não parecer violentos, mas são. “Quando um homem reclama que a comida que a esposa faz não é tão boa como a da mãe dele, está sendo violento, na maioria das vezes sem perceber”. Este tipo de sensibilização acontece em projetos como o “Acorda, João” que realiza em “chão de fábrica”.

Já no trabalho com autores de agressão, Sergio busca desconstruir estigmas e permitir que os homens acessem suas fragilidades. “Este homem precisa reconhecer seu erro, mas não podemos imprimir nele o rótulo de ‘agressor’. Quando ele compreende o que o levou a agir de maneira violenta, começamos a regeneração”, compartilhou. A reincidência diminui de 68% para 2% dentre os homens que passam pelos processos conduzidos por Sergio.

“Minha trajetória foi desconstruir a narrativa que tinham me ensinado desde criança. Sou filho e neto de militar. Cresci ouvindo que o homem deveria ser o provedor da família”, contou Rafael Rios, ex-militar e advogado que se tornou florista. Ele é um dos fundadores do movimento Brotherhood Brasil,  grupo de homens que participam de rodas de conversa para discutir as muitas masculinidades possíveis.

“Meus amigos estranhavam, me perguntavam se eu tinha virado homossexual, se eu tinha deixado de ser homem. Primeiro, não acredito que homossexuais não sejam homens. E sobre ser florista, descobri uma atividade que me dava prazer, que me reconectava com algo que minha avó me ensinou. Isso de forma alguma me torna menos homem”, disse Rafael.

Regiane Vieira Wochler, economista e professora, trouxe a experiência de sofrer o duplo preconceito. Em uma instituição financeira onde atuou, era a única mulher negra na área de maior destaque da tesouraria, composta por 120 pessoas. Convidada a participar de um grupo para tratar da diversidade na instituição, comentou: “Havia tanta resistência sobre a questão racial que foi difícil conseguir da área de RH os dados do nosso contexto”, contou. Perguntada se havia colaboradores negros na equipe do RH, complementou: “Não. Eram todas mulheres brancas de um perfil – desculpem a expressão – meio ‘Barbie’”.

Do total de 21 mil colaboradores da instituição, apenas 13% se declaravam pretos ou pardos, e 95% deles atuavam nas áreas operacionais, ainda que todos contassem com formação universitária. Apenas 3 colaboradores negros – nenhum deles mulher – faziam parte da diretoria. “Quando falamos de equilíbrio de gênero, estamos falando de humanidade. Foi negado aos meus ancestrais o reconhecimento de sua humanidade durante todo o período da escravidão. Desde então isso continua sendo negado à população preta, e sobretudo às mulheres negras, que são vistas como objetos sexuais disponíveis”, disse Regiane.

Carol Portella, gerente da área chamada “Fontes Humanas” no Grupo Reserva, compartilhou a experiência de transformação interna da sua organização. A partir da reação negativa do público mais jovem a uma campanha que usou um meme de internet associado ao machismo no Dia dos Namorados, a empresa retirou as peças de circulação e pediu desculpas imediatas. Em seguida, iniciou um processo interno para compreender a situação. E concluiu que há uma diferença geracional na percepção das questões de gênero.

Carol compartilhou a sua visão de quem está dentro de uma organização patrocinando a diversidade: “Aprendemos que, se não mudarmos o mindset da liderança, a mudança não acontece. É preciso fazer esse exercício. Mas a mudança vai acontecer principalmente a partir da base da pirâmide. Invista na base da pirâmide organizacional, dê voz a essas pessoas. Elas vão trazer a mudança, provocando a liderança a mudar ou mesmo se tornando a liderança futura com um mindset completamente diferente”.


Os participantes presentes se envolveram desde o início do evento, compartilhando suas percepções e vivências sobre patriarcado e regeneração, e trazendo para o painel perguntas debatidas em pequenos grupos. A vontade de continuar a conversa motivou a redação deste texto. Compartilhamos a seguir os perfis ativos dos convidados do painel torcendo para que muitas outras conversas possam emergir:

– Rita Monte – @ritamontecoachhttp://www.ritamonte.com
– Sergio Barbosa – https://www.facebook.com/sergio.barbosa.39566
– Rafael Rios – @brotherhoodbrasilhttps://www.facebook.com/rafaelriosribeiro
– Regiane Vieira Wochler – @regianevw
– Carolina Portella – https://br.linkedin.com/in/carolina-portella-2b13071

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